a miúda da porta do lado

quinta-feira, novembro 09, 2006

Química

"Quando não se sabe bem como justificar um inesperado comportamento sentimental há uma palavra que é sempre chamada em jeito de explicação: química. Afinal, no senso comum, a química remete para uma ciência um tanto ou quanto misteriosa, que lida com matérias quase transcendentes. Mas será ela a culpada por todas as loucuras cometidas em nome do amor e do prazer?

(...) As mulheres procuram cada vez mais a satisfação sexual e se o companheiro habitual não consegue oferecê-la, acabam por buscá-la, mesmo que inconscientemente, fora dessa relação. E aí surge a química com alguém especial”, diz o especialista. “Se calhar, até podemos dizer que foi a química, pois a
atracção é algo que é muito fácil de reconhecer, mas muito difícil de explicar.”

O certo é que segundo Helen Fisher, uma das mais reputadas antropólogas norte-americanas e professora na Rutgers University, a química tem mesmo um papel a desempenhar quando se ensaiam relacionamentos homem/mulher(...)a investigadora defende que aquilo que se convencionou chamar de paixão não pertence, afinal, ao terreno das emoções, mas é uma interacção de substâncias no cérebro.

Para Helen Fisher, esta paixão avassaladora funciona, em termos evolutivos, enquanto garantia de propagação da espécie, pois a atracção e o desejo pelo outro é tão fulminante que acaba em contacto sexual”, ...Há um impulso incontrolável para a relação, derivado de mudanças em termos químicos”, adianta a terapeuta. Animalesco? Se calhar por isso a investigadora norte-americana deu-lhe o nome suave de amor romântico.

E o que é isso de amor romântico? “Uma das mais poderosas forças existentes no mundo”, sentencia Helen Fisher. Ou seja, é aquilo a que nos habituámos a chamar de paixão. “Há uma tremenda explosão de energia, de interesse em estar com o outro. Uma euforia quando as coisas correm bem, um desespero terrível
quando vão mal. Não se consegue deixar de pensar no outro. Há uma tendência para a obsessão, para a procura compulsiva”, explica a sexóloga Paula Pinto.

Como admite Jorge Cardoso, temos, na verdade, mais de polígamos do que de monogâmicos. “O que também temos é uma coisa chamada social que nos vai impondo regras e princípios sociais e de relacionamento”, adianta o sexólogo. Como dizem os poetas, são misteriosos os caminhos do desejo e do amor. Sobretudo, quando há algo como a química pelo meio.

Da atracção à protecção
Para Helen Fisher, existem três tipos de impulsos recionais entre homens e mulheres. Segundo a investigadora, todos eles podem existir simultaneamente num indivíduo, embora o ser humano só consiga lidar com um amor romântico de cada vez, tal a sua intensidade e perturbação que provoca.

• Luxúria – É o puro impulso sexual. Uma pessoa relaciona-se com a outra só pelo prazer em si mesmo. Busca-se aqui uma satisfação mais física, que não passa nem pela paixão nem pelo enamoramento.
• Amor romântico – É a paixão tradicional, em que se perde a noção de si mesmo, pensando-se obsessivamente no outro e no desejo que ele causa. Há uma euforia e uma energia transbordantes. É uma espécie de estado de graça.
• Apego – É uma fase mais calma, normalmente seguinte ao amor romântico, que permite uma estabilidade emocional propícia ao cuidar dos filhos. Aqui
destacam-se emoções como a afeição e a vontade de proteger os seres amados."

Máxima

Nem os antropólogos, psicólogos, sexólogos e afins chegam a uma conclusão concreta como é que nós, comuns mortais, não haveremos de andar baralhados? Não há outra solução para além de: ir tentando, experimentando, metendo o pé na poça, entrar em depressão, levantar a cabeça e tentar novamente até, quem sabe, acertarmos. Mesmo que não saibamos o que é que contribui para desta vez dar certo em prol de todas as anteriores que deram errado...Não há receitas nem estratégias infaliveis, há a tentativa e erro de "Pavlov" e mais nada.