Ser e Estar – Ver e Olhar
Ser e Estar mais do que dois verbos distintos, tratam-se de duas formas diferentes de conhecer alguém.
Diria de uma forma muito pragmática e sucinta, sem pensar ou enveredar por ilações mais complexas e repescadas que, se pode fazer uma metáfora com o Olhar e o Ver.
Quando estamos a Ver um objecto, por exemplo, vamos imaginar que estamos a Ver um produto que queremos comprar, um par de sapatos por exemplo (porque sim, porque gosto de sapatos, porque sou gaja), em vez de simplesmente estarmos a Olhar reparamos em todos os pormenores: a cor, o tipo de salto, a altura do salto, a biqueira, a sola, o laçarote, ou os brilhantes, e vamos ainda mais longe, começamos a analisar o tipo de material para prever a resistência e durabilidade, a ponderar gastar o valor dos sapatos tendo em conta o volume da conta bancária actual, a pensar nos restantes pares de sapatos que existem no armário lá de casa e a imaginar os conjuntos que podem ser feitos com aquele par de sapatos que estamos a Ver na prateleira da loja. Ou seja, Ver implica outros verbos: Analisar, Ponderar, Pensar, Imaginar...
Quando estamos apenas a Olhar para um par de sapatos numa loja (pegando no mesmo exemplo), sem efectivamente o Ver, prendemos o alvo da nossa visão pouco mais de uns segundos e rapidamente passamos ao par seguinte, ou à conversa com a amiga das compras. Ou seja, Olhar implica puramente isso mesmo, Olhar. Não há outros verbos ou acções associadas.
Quando Vemos atribuímos valor, quando Olhamos não. Quando falo de valor refiro-me ao facto de estarmos a despender tempo, estarmos a dar importância e dedicarmos por instantes, sejam eles breves ou longos, de elevada ou reduzida importância, o foco da nossa visão e mente. Temos interesse naquele objecto específico por isso, abdicamos de algo nosso para poder integrar aquele objecto na nossa vida. Se depois da análise, ponderação, pensamento e imaginação terem funcionado a importância for reduzida colocamos fim à nossa abdicação e entrega ao objecto. Se ao contrário, a importância atribuída for elevada passamos a uma nova etapa e a um novo verbo implicado na consequência do Ver, o verbo Ter.
Imaginemos agora as coisas vistas da perspectiva do par de sapatos: quando aos olhos dos outros revelam apenas a sua forma de Estar é porque estão lá apenas para serem Olhados, aos que revelam o seu Ser estão lá para serem Vistos.
(Os meus conceitos de pragmatismo dão nisto...teorias estranhas sobre pares de sapatos...)
7 Comments:
Menina da Janela do Fundo, antes de mais devo desculpar-me pala minha ausência mas sabes que tem sido uma distância ciberneticamente mais física do que sentimental.
É com preocupação que assisto à poluição que entretanto contamina este nosso querido blog. Não me refiro obviamente aos teus posts (apesar de não ser propriamente fan de textos melancólicos, mas ok fostes tu que os escreveste e eu simpatizo contigo) mas sim aos comentários aos mesmos.
Passo-me a explicar:
"Não te posso dizer mta coisa, pois não há mto a dizer!" VJ, se não há muito a dizer, não digas nada.
Quanto à Maça de Junho, devo dizer que ok é bom saber que o Jorge Palma ainda é vivo só é pena que ainda dê concertos. Maçã, brinca com as minhocas.
Como só tenho amor no meu corpo, VJ e Maçã transcrevo, só para vocês, este poema do meu recentemente falecido tio Mário Cesariny:
"ama como a estrada começa"
By Anónimo, at quarta-feira, novembro 29, 2006 12:12:00 da manhã
Sobre a "Sobredosagem":
Parte. Fode.
Esquece.
Define.
Destrói.
Eu chego e vivo e ela diz-me: "sabes bebé, não sou nada em tudo o que te posso dar, por isso abraça-me, fode-me, esquece-me, define-me, destrói-me"
eu parto e ela parte. eu parto e ele parte. eu parto e ela parte. eu parto e ele parte. eu parto e ela parte. e a superficíe (qual delas?) derrama epicentros desordenados entre os navios.
By Anónimo, at quarta-feira, novembro 29, 2006 12:24:00 da manhã
Não ter muito para dizer, não é o mesmo que não ter nada para dizer,meu caro Anónimo! Para a menina da porta do lado, existirão sempre palavras para dizer, e se porventura, essas escassearem, haverá "um ouvido que escuta, a mão que escorrega pelos fios do cabelo, o colo que recebe quem chora e a compreensão"...a minha compreensão! Muito menos filosófica, poética e metafísica que a tua, mas muito mais real e útil! de qualquer forma, simpatizei contigo, principalmente porque lês esta míuda da porta do lado!
By Anónimo, at quarta-feira, novembro 29, 2006 12:03:00 da tarde
E viva a Liberdade de Expressão!!!!
Irei dedicar mais tempo a estes comentários mas ainda não consegui (pelo menos fisicamente o que não aconteceu psicologica e sentimentalmente), de qualquer forma não quis deixar que o silêncio completo se instalasse.
Até já (tal qual TMN)
By a míuda da porta do lado, at quarta-feira, novembro 29, 2006 12:22:00 da tarde
“Quem é vivo sempre aparece!” Já dizia o outro (um qualquer, que não é meu tio mas pelo qual tenho um elevado apreço a ponto de o citar).
Confesso que a saudade motivada pela ausência física já me presenciava o espírito. Como já percebeu, uma parte de mim (do meu Ser e do meu Estar) é melancólica e que melhor característica define o melancólico senão o saudosismo? (Viva El Rei D. Sebastião – o “Encoberto”, o salvador que aguardamos)
A leitura nas entrelinhas, que tão bem conhece e sobretudo alimenta, permite-nos “Ver” o que verdadeiramente existe (ou seja “É”) logo concorda comigo no elogio à liberdade de expressão. Pouco ou muito do que se diz não é o fulcro da questão mas sim o que significam as palavras e as atitudes.
A acrescentar ao que disse o seu tio que tristemente nos abandonou a todos “Ama como a estrada que começa” “Vale sempre a pena quando a alma não é pequena”, até poderiam ser versos do mesmo poema, não acha?
By a míuda da porta do lado, at quinta-feira, novembro 30, 2006 11:02:00 da manhã
A “Sobredosagem” alimenta, dá fome, equilibra e desequilibra, constrói, destrói e volta a reconstruir. Está onde menos se espera e onde mais se anseia também. Pode estar em todo o lado e em lado nenhum. Quem não a encontra em lado nenhum é porque ou não a quer encontrar ou tem medo do que ela provoca.
A “Sobredosagem” não se controla (desiludam-se os iludidos) ela revela-se no olhar, no discurso e nos gestos descontroladamente controlados.
A “Sobredosagem” assusta e dói mas também nos eleva à estratosfera e por isso vicia. Se ao menos a vista lá de cima não fosse tão bela, as estrelas tão grandes e brilhantes e as nuvens colchões tão confortáveis... mas é debaixo delas que vivemos e debaixo delas banhamo-nos em mares de tranquilidade para dosear a “Sobredosagem” e passar pelo novo ciclo até que a evaporação se dê novamente.
Curiosidade: A Maçã...
By a míuda da porta do lado, at quinta-feira, novembro 30, 2006 11:02:00 da manhã
Hello, i'm back again!!! Iupi!!! Loba, loba, ehhh!!!!
Miúda,a leitura dos teus posts faz-me imaginar como serás.
Eis uma lista de características:
1. Paranóide/Existencialista;
2. Divertida;
3. Gira;
4. Cosmopolita.
Pegando na última, "cosmopolita", dá para perceber pelas referências a sapatos que deves gostar de moda e de roupa. Essa é obvia. Uma última tendência que me atormenta a mente e me aquece o corpo é ver raparigas com vestidos (aqueles vestidos leves, tipo "trapo" no bom sentido da palavra). São super sexys e como tal dedico umas linhas com palavras vindas da minha imaginação.
O Vestido
este vestido vestido olhado no espelho durante 30 falsos dias, lembra-me o momento realmente esquecido. ele abraça a cintura e deixa-se cair ao longo do corpo desta necessidade e d'uns sentidos que esperam.
o vestido despido, caído no chão, é finalmente esquecido na imagem das mãos reais e sem sentido que tocam agora no corpo desejado.
By Anónimo, at terça-feira, dezembro 05, 2006 3:21:00 da tarde
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