a miúda da porta do lado

sábado, maio 24, 2008

Viajantes do tempo


Nascidos em tempos de maior silêncio e maior alcance de vista. Onde as ruas eram feitas de areia e pedra. Por lá passavam carros feitos de pedaços de árvore, animais de forte porte, homens vindos do trabalho, crianças de joelhos sujos de pó e brincadeira e mulheres com alguidares de roupa fresca lavada no rio...


Onde nos céus voavam pássaros e navegavam apenas as nuvens, flutuavam o Sol, a Lua e as estrelas. Nadava-se no mar, nos rios, nos lagos e lagoas. Dormia-se a sesta à sombra de uma árvore e na companhia das cabras, ovelhas e vacas de pasto.


Onde a distração caseira era a lareira, o alpendre, os risos, as estrelas e os sonhos iluminados à luz da vela...


Onde as horas demoravam a passar e os sítios eram distantes, desconhecidos e quase inalcançáveis...


Acordados em tempos de TV a cores, aviões, TGV, telemóveis, GPS, computadores, internet, ipod, iphone, hi5 e messenger, Playstation e a depilação é a laser e definitiva!


Nestes tempos nada-se nas piscinas dos condomínios onde se dividem desconhecidos por 30 andares. Os campos são de betão ou de ornamentação junto aos passeios das avenidas de 5 ou mais faixas de automóveis topo de gama... Respira-se dióxido de carbono e não se vive sem ar-condicionado...tudo e todos bem acondicionados e condicionados por certezas e necessidades que não cresceram a conhecer, conheceram depois de crescer...


Os espelhos também não são os mesmos...os reflexos são de faces rugosas, corpos que não são os seus, movimentos lentos que desconhecem e uma mente que não pertence aqui... aqui a este tempo, a estas pessoas que de tanto viajar no tempo estão cansadas e se sentam finalmente para descansar e relembrar o caminho do passado que percorreram até chegar aqui, ao futuro.