O tempo dos super-heróis Vivemos na era da polivalência (veja-se por exemplo a descrição das funções dos anúncios de emprego), na era da escassez do tempo, na era da diversidade de tarefas, de oferta e de oportunidades de consumo. Somos bombardeados por tudo e por todos com sugestões de algo para fazer durante o mesmo período de tempo que existia há cem anos atrás: os dias continuam e continuarão a ter 24 horas, as semanas 7 dias e os anos 365/366 dias.
O homem/ mulher dos nossos dias deve ter a pretensão de conseguir trabalhar 10 a 12 horas diárias; ir ao ginásio no mínimo 3 vezes por semana; ter uma apresentação impecável, cool, mas no entanto sofisticada; ir ao cinema pelo menos de 15 em 15 dias; ir ao teatro; fazer no mínimo uma viagem por ano; ir a exposições; ir para o interior ou para a costa litoral em alguns fins-de-semana do ano; fazer umas férias de Inverno na neve; fazer umas férias de praia no Verão; levar e ir buscar as crianças à escola; levar o carro à oficina; jantar em casa com a família; sair ao Sábado à noite com os amigos; ter um lugar cativo no seu clube de futebol de eleição; cozinhar; lavar a loiça; arrumar a casa; visitar os familiares; ir aos outdoors da empresa e às acções de formação; tirar um mestrado, uma pós-graduação, um MBA, e ainda uns cursos rápidos de expressão artística em horário pós-laboral; sem esquecer que somos "obrigados" à terrível tarefa de dormir as recomendadas 8 horas diárias. Em suma, os super-heróis não existem apenas nos livros de banda desenhada, existem sim, ou pretende-se que existam, dentro de cada homem/ mulher comum que vive no século XXI.
A lista de actividades com as quais somos confrontados pode ser verdadeiramente interminável e a verdade é que são raros os seres humanos que conseguem executar todas, de foro pessoal e profissional, e que no balanço final se sintam felizes, energéticos, criativos, produtivos, completos. O que sucede na realidade é que muitas das actividades que se tem a ambição de realizar ficam-se pelo campo do desejo em vez de passarem à prática, resultando em seres humanos frustrados, stressados, tristes, insatisfeitos e incompletos por não conseguirem responder a todas as exigências da sociedade e das vontades dos seus seres.
Acredito que um dos grandes desafios da humanidade para alcançarmos a qualidade de vida passa por encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Pode assim afirmar-se que as pessoas e as empresas (principalmente a gestão de recursos humanos) têm um grande desafio entre mãos que se torna cada vez mais premente alcançar formas de resolução. Problema este em que todos são culpados e lesados simultaneamente pela sua existência. A culpa não reside apenas em cada um de nós mas essencialmente diria que reside na conjuntura social e económica que nos envolve. É talvez o preço a pagar pela evolução, pelos níveis elevados de conhecimento e inteligência que o ser humano conseguiu alcançar, pela sede de saber, de ter e de crescer que o ser humano tem e que continuará a ter sempre.